Úlceras de Pressão: causas e prevenção
“As Úlceras de Pressão são áreas da superfície corporal que sofreram exposição prolongada a pressões elevadas, fricção e estiramento, de modo a impedir a circulação local, com consequente destruição e/ou necrose tecidular” (REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS, 2007, p.4).
Quais as causas das Úlceras de Pressão?
As úlceras de pressão (UP) são a evidência visível de alterações patológicas na circulação sanguínea dos tecidos dérmicos. A sua principal causa é a pressão aplicada a tecidos suscetíveis.
A quantidade de pressão e a duração da mesma são inversamente proporcionais: baixas quantidades de pressão durante longos períodos de tempo podem ser tão prejudiciais para os tecidos como grandes quantidades de pressão durante curtos períodos de tempo.
Esta pressão é geralmente concentrada em proeminências ósseas, sendo que os tecidos sobre estas proeminências podem ser diferentes no que diz respeito a resistência à hipóxia ou pressão, quando comparados com outras áreas longe destas proeminências. Isto pode explicar a frequência do desenvolvimento das UP nestas áreas.
É importante ter a noção que os tecidos corporais têm diferente capacidade de tolerar a pressão. BRADEN & BERGTROM utilizam o termo “tolerância tecidular” para designar a capacidade da pele e suas estruturas de suporte suportarem os efeitos da pressão sem sequelas adversas.
A tolerância tecidular é influenciada por factores extrínsecos e intrínsecos.
Quais são os factores de risco?
Existem muitos factores que contribuem, direta ou indiretamente, para o desenvolvimento das úlceras de pressão, sendo frequente dividir tais fatores predisponentes em duas categorias: intrínsecos e extrínsecos.
Habitualmente num mesmo doente estão presentes vários fatores de risco. O risco de aparecimento das UP é tanto maior quanto mais fatores de risco o doente apresentar.
Factores Intrínsecos
Os factores de risco intrínsecos referem-se às condições internas do doente que predispõem ao aparecimento/desenvolvimento de úlceras de pressão.
- Idade – o envelhecimento tem-se revelado como um importante fator desencadeador de UP, isto porque à medida que o indivíduo envelhece a pele torna-se mais fina, mais frágil e com menos elasticidade, poderá acontecer uma perda de massa corporal e surgirem doenças crónicas;
- Limitação da mobilidade – é o factor de risco mais importante a considerar, isto porque o ponto de partida para o aparecimento e desenvolvimento de uma UP é a imobilidade;
- Desidratação – alterações iónicas significativas derivadas da desidratação predispõem ao aparecimento/desenvolvimento de UP;
- Deficiente estado de nutrição – os doentes desnutridos com hipoproteinémia, anemia e deficiências vitamínicas estão mais sujeitos à formação de UP;
- Peso corporal – os doentes emagrecidos, por se encontrarem desprovidos de gordura sobre as proeminências ósseas, têm menor proteção contra a pressão. Inversamente nos doentes muito obesos que apresentam dificuldades na mobilidade, observam-se lesões tecidulares muitas vezes precipitadas pelo posicionamento;
- Incontinência urinária e fecal – a humidade resultante da incontinência contribui para a maceração da pele e conduz à necessidade de limpezas mais frequentes da pele, o que remove os seus óleos naturais, secando-a;
- Deficiente irrigação sanguínea – esta pode ser causada por diversos estados patológicos, entre os quais: anemia, insuficiência renal, coma, caquexia, diabetes, alterações neurológicas, doenças cardiovasculares, vasoconstrição periférica, infeções e neoplasias.
Factores extrínsecos
Existem vários factores externos ao doente que contribuem para o aparecimento/desenvolvimento de úlceras de pressão, destacando-se os seguintes:
- Pressão – é o factor de risco externo mais importante. A obstrução vascular com isquémia concominante é o mecanismo primário responsável pelas alterações patológicas que advêm da compressão dos tecidos;
- Forças de torção – estas forças são originadas quando se levanta mais de 30º a cabeceira da cama e o corpo do indivíduo desliza para baixo. O atrito provocado pelo deslizar é responsável pelo aparecimento da necrose profunda das UP;
- Fricção e irritação – a fricção sobre os tecidos pode provocar a perda da epiderme, ao mesmo tempo que pode levar à isquémia por destruição das arteríolas e músculos cutâneos;
- Humidade – a humidade excessiva é criada pela transpiração ou pela incontinência (urinária ou fecal). A presença de humidade diminui a resistência da pele, conduzindo à maceração dos tecidos;
- Temperatura ambiente – a temperatura superior a 30ºC leva ao aumento do metabolismo celular (gasto de energia) e ao aumento da sudorese;
- Condições socioeconómicas / suporte familiar – as condições de habitação e o apoio familiar são aspetos a ter em consideração uma vez que poderão contribuir positiva ou negativamente para a prevenção/cicatrização.
Como prevenir as Úlceras de Pressão?
As UP são um problema de saúde com repercussões a vários níveis:
- Biológico – A alteração da integridade cutânea torna o doente mais suscetível ao desenvolvimento de outras complicações (sépsis, osteomielite, etc.);
- Psicológico – Representam um acréscimo de sofrimento físico e emocional para o doente (ex.: depressão);
- Sociais – Aumenta consideravelmente a duração e os custos do internamento. Para além disso, representa encargos acrescidos para a família e comunidade.
A adopção de medidas preventivas vai reduzir o risco de desenvolver úlceras de pressão entre 25 a 50%, e consequentemente, diminuir as repercussões anteriormente referidas (ROCHA, MIRANDA, ANDRADE, 2006, p.2).
A ênfase atribuída à prevenção das úlceras de pressão salienta a prevenção como forma de evitar dor e desconforto desnecessários e até mesmo a morte, reforçando também o facto de que a maioria das úlceras de pressão pode ser prevenida e cuja prevenção tem menores custos financeiros do que o seu tratamento.
As várias ações que, em conjugação podem conduzir a uma prevenção de úlceras de pressão de sucesso, estão ilustradas na Figura 1.
DELAUNOIS defende que a prevenção das UP é um cuidado de enfermagem por excelência, já que:
- O menor descuido e a menor negligência na prestação de cuidados preventivos e curativos pode destruir o trabalho de uma equipa;
- Os cuidados são um encadeado de ações que importa respeitar com lógica, método e sobretudo com perseverança e coerência, visto que eles são constituídos por uma multiplicidade de gestos banais que se repetem incansavelmente;
- Esta corrente é constituída por uma série de elos que não são mais do que os aspetos essenciais da competência específica do enfermeiro, nomeadamente:
- A observação rigorosa, atenta, prudente e ativa;
- O conhecimento dos factores predisponentes;
- A transmissão das suas observações à equipa;
- A iniciativa e a criatividade na utilização dos meios preventivos tanto ao nível dos cuidados como do material complementar;
- O respeito e a aplicação rigorosa de princípios elementares de higiene, de alimentação e de mobilização do doente de risco;
- A necessidade absoluta de adquirir, adotar e seguir uma política de cuidados comum, mas específica para cada doente, garantindo a continuidade da sua execução e posterior avaliação;
- Ter a consciência de que o tempo é fundamental para a recuperação.
Como podemos concluir, a prevenção das UP é possível e pode diminuir a sua incidência até 50%, constituindo-se como um indicador crítico da qualidade da prestação dos serviços.
A utilização de sistemas como o Ankira, que agrega os registos e avaliações dos vários elementos da equipa no processo individual do utente, que uniformiza os critérios e instrumentos de avaliação e permite que todos os intervenientes na prestação de cuidados possam monitorizar as intervenções realizadas, constitui-se como um factor de eficácia para o processo de prevenção de UP da instituição.