Dependência na terceira idade: instrumentos de avaliação
O envelhecimento da população resulta, naturalmente, num aumento do “índice de dependência” de idosos. Em 2018, registava-se, em Portugal, uma média de 33,6 pessoas com 65 anos ou mais por 100 pessoas em vida ativa, segundo o Pordata. Sendo a passagem para a terceira idade muitas vezes acompanhada de uma transição para a dependência física e/ou mental, estes valores alertam para a necessidade de se pensar a dependência na terceira idade, estudá-la e monitorizá-la.
Atualmente existem diversos instrumentos que permitem a avaliação funcional do idoso.
A utilização destes instrumentos de avaliação permite analisar o estado do idoso e, consequentemente, obter uma resposta mais completa e adequada dos profissionais. Como consequência, conquista-se uma melhor qualidade de vida para o idoso.
Conheça neste artigo que tipo de análise à dependência deve ser feita e quais os instrumentos mais utilizados para avaliação do grau de dependência na terceira idade.
A evolução da dependência
A par do processo normal de envelhecimento, verifica-se um aumento gradual da dependência estreitamente relacionado com um défice físico, mental e funcional.
A dependência, segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, está relacionada com:
- Estruturas e funções do corpo;
- Atividades que a pessoa realiza;
- Contexto de interação.
Existem diferentes tipos de transição de graus de dependência. O mais normal é aquele que é antecipado e previsível (saída da vida ativa para a reforma e processo normal de envelhecimento). Mas há também a transição não antecipada, imprevista. Verificam-se como fatores de risco para uma transição imprevista, as seguinte situações:
- Perda / luto;
- Alterações do modo de vida;
- Doença grave;
- Institucionalização.
De qualquer forma, o aparecimento de uma dependência implica sempre uma transição para uma nova etapa da vida, uma adaptação.
Avaliação Global
A avaliação global do idoso identifica o estado de funcionalidade da pessoa, assim como as suas fragilidades e dependências. Desta forma, permite uma resposta direcionada às suas necessidades.
Esta avaliação deve ser o mais transversal possível. Por essa razão deve analisar desde a audição, passando pela capacidade de aprender, pela mobilidade, até à capacidade de relação com os outros.
Idealmente, recomenda-se que sejam feitas avaliações nas seguintes categorias:
Além dos instrumentos usados para avaliar o estado funcional do idoso, é geralmente feita uma avaliação ao idoso que inclui por exemplo o seu estado de saúde e o seu funcionamento psicossocial.
Que tipo de instrumentos existem?
São muito diversos os instrumentos disponíveis para a avaliação de dependência na terceira idade. A escolha depende – naturalmente – dos objetivos e das disponibilidades técnicas das instituições e simplicidade, fiabilidade e custos dos instrumentos.
Analisamos alguns dos mais conhecidos e utilizados:
Índice de Barthel
Este instrumento, que é um dos mais usados nas instituições para a avaliação do desempenho das ABVD (Atividades Básicas da Vida Diária), foi inicialmente criado em 1965 e deu posteriormente origem a versões modificadas. É aplicado em pessoas vítimas de acidentes vasculares cerebrais, por exemplo, mas também em sujeitos sem patologias específicas.
É composto por 10 atividades e cada uma delas apresenta entre 2 a 4 níveis de dependência. Neste índice são avaliadas as capacidades de:
- Alimentação;
- Vestir;
- Banho;
- Uso da Casa de Banho;
- Higiene Corporal;
- Controlo Intestinal;
- Controlo Vesical;
- Subir Escadas;
- Transferência cadeira-cama;
- Deambulação.
A cotação global deste índice varia entre os 0 e os 100. Quanto menor for a pontuação, maior será o grau de dependência.
Escala de Katz
A escala de Katz surgiu em 1963 para avaliar o funcionamento físico de pacientes com doença crónica e/ou institucionalizados. Tal com o Índice de Barthel, esta escala permite avaliar o grau de autonomia de um idoso nas ABVD, mas neste caso em 6 itens:
- Controlo de esfíncteres;
- Banho;
- Utilização da casa de banho;
- Mobilidade;
- Vestir/ Despir;
- Alimentação.
A pontuação destas atividades para a análise da dependência do idoso varia entre o 1 (Dependente) e os 4 pontos (independente).
Escala de Lawton & Brody
Esta escala apresentada em 1969 foi desenvolvida para diagnosticar o desempenho de atividades instrumentais de vida diária (AIVD), ou seja em tarefas mais complexas do que atividades básicas dos instrumentos anteriores. O índice contempla 8 atividades:
- Cuidar da casa;
- Lavar a roupa;
- Preparar as refeições;
- Fazer compras;
- Usar o telefone;
- Usar o transporte;
- Usar o dinheiro;
- Responsabilizar-se pelos medicamentos.
Neste instrumento há uma variação entre os 8 e os 30 pontos, sendo que uma maior pontuação corresponde a uma maior dependência.
Classificação Funcional da Marcha de Holden
Este instrumento permite analisar a dependência da marcha do idoso, em função do tipo de superfície (plana, inclinada, escadas).
A escala é composta por 6 categorias:
- Marcha ineficaz;
- Marcha dependente Nível II;
- Marcha dependente Nível I;
- Marcha dependente com supervisão;
- Marcha independente (superfície plana);
- Marcha independente.
Estes são alguns dos instrumentos mais conhecidos, mas há muitos outros. Na área da saúde tipicamente usam-se por exemplo as escalas de Braden, Morse e Berg. Já na área de apoio psicossocial, é comum aplicarem-se o Mini Exame do Estado Mental e a Escala de Depressão Geriátrica.
Para um diagnóstico rigoroso, é recomendável a utilização destes instrumentos de avaliação. A sua utilização permite além disso uma uniformização no diagnóstico e a possibilidade de comparar resultados, tanto no que diz respeito ao próprio idoso e à sua evolução, como em relação a outros utentes.
No entanto, estas escalas e índices não substituem uma entrevista ou outras abordagens mais subjetivas, onde podem ser recolhidos outros tipos de informações – muitas vezes cruciais para o planeamento de intervenções. A par disto, uma observação atenta pode também fazer a diferença no diagnóstico.
Na plataforma Ankira, os instrumentos de avaliação estão presentes nas várias áreas do processo individual (ABVD, AIVD, apoio clínico e apoio psicossocial), havendo depois uma ligação automática ao Plano Individual de Intervenção no momento de o estabelecer ou avaliar. Neste software encontram-se algumas das escalas mais utilizadas. No entanto, é possível configurar outros instrumentos de avaliação, que mais se adequem a cada instituição. Além disso, estão também disponíveis outras ferramentas para recolha de informação que complementam a avaliação dos utentes.
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