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21 Janeiro, 2021

Úlceras de Pressão: causas e prevenção

“As Úlceras de Pressão são áreas da superfície corporal que sofreram exposição prolongada a pressões elevadas, fricção e estiramento, de modo a impedir a circulação local, com consequente destruição e/ou necrose tecidular” (REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS, 2007, p.4).

Quais as causas das Úlceras de Pressão?

As úlceras de pressão (UP) são a evidência visível de alterações patológicas na circulação sanguínea dos tecidos dérmicos. A sua principal causa é a pressão aplicada a tecidos suscetíveis. 

A quantidade de pressão e a duração da mesma são inversamente proporcionais: baixas quantidades de pressão durante longos períodos de tempo podem ser tão prejudiciais para os tecidos como grandes quantidades de pressão durante curtos períodos de tempo.

Esta pressão é geralmente concentrada em proeminências ósseas, sendo que os tecidos sobre estas proeminências podem ser diferentes no que diz respeito a resistência à hipóxia ou pressão, quando comparados com outras áreas longe destas proeminências. Isto pode explicar a frequência do desenvolvimento das UP nestas áreas.

É importante ter a noção que os tecidos corporais têm diferente capacidade de tolerar a pressão. BRADEN & BERGTROM utilizam o termo “tolerância tecidular” para designar a capacidade da pele e suas estruturas de suporte suportarem os efeitos da pressão sem sequelas adversas.

A tolerância tecidular é influenciada por factores extrínsecos e intrínsecos.

Quais são os factores de risco?

Existem muitos factores que contribuem, direta ou indiretamente, para o desenvolvimento das úlceras de pressão, sendo frequente dividir tais fatores predisponentes em duas categorias: intrínsecos e extrínsecos.

Habitualmente num mesmo doente estão presentes vários fatores de risco. O risco de aparecimento das UP é tanto maior quanto mais fatores de risco o doente apresentar. 

Factores Intrínsecos

Os factores de risco intrínsecos referem-se às condições internas do doente que predispõem ao aparecimento/desenvolvimento de úlceras de pressão.

  • Idade – o envelhecimento tem-se revelado como um importante fator desencadeador de UP, isto porque à medida que o indivíduo envelhece a pele torna-se mais fina, mais frágil e com menos elasticidade, poderá acontecer uma perda de massa corporal e surgirem doenças crónicas;
  • Limitação da mobilidade – é o factor de risco mais importante a considerar, isto porque o ponto de partida para o aparecimento e desenvolvimento de uma UP é a imobilidade;
  • Desidratação – alterações iónicas significativas derivadas da desidratação predispõem ao aparecimento/desenvolvimento de UP;
  • Deficiente estado de nutrição – os doentes desnutridos com hipoproteinémia, anemia e deficiências vitamínicas estão mais sujeitos à formação de UP;
  • Peso corporal – os doentes emagrecidos, por se encontrarem desprovidos de gordura sobre as proeminências ósseas, têm menor proteção contra a pressão. Inversamente nos doentes muito obesos que apresentam dificuldades na mobilidade, observam-se lesões tecidulares muitas vezes precipitadas pelo posicionamento; 
  • Incontinência urinária e fecal – a humidade resultante da incontinência contribui para a maceração da pele e conduz à necessidade de limpezas mais frequentes da pele, o que remove os seus óleos naturais, secando-a;
  • Deficiente irrigação sanguínea – esta pode ser causada por diversos estados patológicos, entre os quais: anemia, insuficiência renal, coma, caquexia, diabetes, alterações neurológicas, doenças cardiovasculares, vasoconstrição periférica, infeções e neoplasias. 

Factores extrínsecos

Existem vários factores externos ao doente que contribuem para o aparecimento/desenvolvimento de úlceras de pressão, destacando-se os seguintes:

  • Pressão – é o factor de risco externo mais importante. A obstrução vascular com isquémia concominante é o mecanismo primário responsável pelas alterações patológicas que advêm da compressão dos tecidos;
  • Forças de torção – estas forças são originadas quando se levanta mais de 30º a cabeceira da cama e o corpo do indivíduo desliza para baixo. O atrito provocado pelo deslizar é responsável pelo aparecimento da necrose profunda das UP;
  • Fricção e irritação – a fricção sobre os tecidos pode provocar a perda da epiderme, ao mesmo tempo que pode levar à isquémia por destruição das arteríolas e músculos cutâneos;
  • Humidade – a humidade excessiva é criada pela transpiração ou pela incontinência (urinária ou fecal). A presença de humidade diminui a resistência da pele, conduzindo à maceração dos tecidos;
  • Temperatura ambiente – a temperatura superior a 30ºC leva ao aumento do metabolismo celular (gasto de energia) e ao aumento da sudorese;
  • Condições socioeconómicas / suporte familiar – as condições de habitação e o apoio familiar são aspetos a ter em consideração uma vez que poderão contribuir positiva ou negativamente para a prevenção/cicatrização.

Como prevenir as Úlceras de Pressão?

As UP são um problema de saúde com repercussões a vários níveis:

  • Biológico – A alteração da integridade cutânea torna o doente mais suscetível ao desenvolvimento de outras complicações (sépsis, osteomielite, etc.);
  • Psicológico – Representam um acréscimo de sofrimento físico e emocional para o doente (ex.: depressão);
  • Sociais – Aumenta consideravelmente a duração e os custos do internamento. Para além disso, representa encargos acrescidos para a família e comunidade.

A adopção de medidas preventivas vai reduzir o risco de desenvolver úlceras de pressão entre 25 a 50%, e consequentemente, diminuir as repercussões anteriormente referidas (ROCHA, MIRANDA, ANDRADE, 2006, p.2).

A ênfase atribuída à prevenção das úlceras de pressão salienta a prevenção como forma de evitar dor e desconforto desnecessários e até mesmo a morte, reforçando também o facto de que a maioria das úlceras de pressão pode ser prevenida e cuja prevenção tem menores custos financeiros do que o seu tratamento.

As várias ações que, em conjugação podem conduzir a uma prevenção de úlceras de pressão de sucesso, estão ilustradas na Figura 1.

Figura 1 – Algoritmo de prevenção de UP
(Baseado no algoritmo constituído pelo Panel for the Prediction and Prevention of Pressure Ulcer in Adults, 1992, cit. Por MORISON, 2004, p. 84)

DELAUNOIS defende que a prevenção das UP é um cuidado de enfermagem por excelência, já que:

  • O menor descuido e a menor negligência na prestação de cuidados preventivos e curativos pode destruir o trabalho de uma equipa;
  • Os cuidados são um encadeado de ações que importa respeitar com lógica, método e sobretudo com perseverança e coerência, visto que eles são constituídos por uma multiplicidade de gestos banais que se repetem incansavelmente;
  • Esta corrente é constituída por uma série de elos que não são mais do que os aspetos essenciais da competência específica do enfermeiro, nomeadamente:
  • A observação rigorosa, atenta, prudente e ativa;
  • O conhecimento dos factores predisponentes;
  • A transmissão das suas observações à equipa;
  • A iniciativa e a criatividade na utilização dos meios preventivos tanto ao nível dos cuidados como do material complementar;
  • O respeito e a aplicação rigorosa de princípios elementares de higiene, de alimentação e de mobilização do doente de risco;
  • A necessidade absoluta de adquirir, adotar e seguir uma política de cuidados comum, mas específica para cada doente, garantindo a continuidade da sua execução e posterior avaliação;
  • Ter a consciência de que o tempo é fundamental para a recuperação.

Como podemos concluir, a prevenção das UP é possível e pode diminuir a sua incidência até 50%, constituindo-se como um indicador crítico da qualidade da prestação dos serviços. 

A utilização de sistemas como o Ankira, que agrega os registos e avaliações dos vários elementos da equipa no processo individual do utente, que uniformiza os critérios e instrumentos de avaliação e permite que todos os intervenientes na prestação de cuidados possam monitorizar as intervenções realizadas, constitui-se como um factor de eficácia para o processo de prevenção de UP da instituição.

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